sexta-feira, dezembro 04, 2009

Temos mais um anjo da guarda


Hoje a tristeza tomou conta de mim. Estou a ficar como um queijo suíço cheio de vazios.

Hoje, dia 4 de Dezembro, mais uma pessoa que muito amei, partiu para outro plano. Sim, já estava à espera, mas parece que quando o facto foi consumado, um vazio, um sentimento estranho foi se entranhando cá por dentro, sem que eu pudesse definir se é tristeza, saudade ou outra coisa qualquer.
Bateu então um aperto no peito e uma grande vontade de escrever sobre a tia Eunice, uma pessoa que viveu para ajudar e, que mesmo sem querer, ela ajudava. Quando morávamos no Grajaú, era ela que durante muitas noites, abria a porta quando eu chegava tarde da Universidade e tinha um prato quentinho preparado para mim. A tia Eunice que falava tanto deste mundo quanto do outro, onde ela está agora. A tia Eunice, magrinha, de cabelos brancos, sempre de roupas claras, a costurar, ou de pernas cruzadas a ver televisão no jardim de inverno. A tia Eunice, que amava os animais e adoptou um pequenino cão “vira-lata”, que sorria quando a via. A tia Eunice que, da última vez que falámos ao telefone, brincou dizendo para eu levar um português bem bonito para que ela pudesse dançar a valsa no seu próximo aniversário, ou melhor, no seu 100.º aniversário que seria comemorado em Fevereiro do próximo ano. Bom, ela não chegou lá, mas tenho a certeza, por tudo o que ela viveu, sem vícios (medicamentos só da homeopatia), alimentação saudável e por todos a quem ela tocou com o seu amor simples, que hoje, ela foi realmente para um plano superior, muito superior. Tenho a certeza que ela está bem.

E é por isso, que essa tristeza que sinto é uma tristeza estranha. Fico triste pela saudade que a sua lembrança me desperta, mas ao mesmo tempo parece que há um certo alívio neste meu sentimento, porque acredito que ela está muito melhor. Descansou desta vida cumprida e comprida que teve e, com a sua espiritualidade e sentido de uma vivência límpida e clara, por tudo o que ela passou na sua juventude, por todo o sacrifício que impôs a si mesma, tenha a certeza que ela está bem e em boa companhia.

Nós perdemos uma pessoa querida e ganhámos mais um anjo da guarda.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Mineiro, Uai !

Sou leitora assídua da Coluna do Zé Arnaldo ( http://www.zearnaldo.com ) que sempre me põe a par do que se está a fazer em Bicas. Na edição nº 257, publicada no dia 30 de Setembro, encontrei um detalhe interessantíssimo que gostaria de partilhar aqui.


A curiosidade foi enviada por uma outra leitora da coluna de Zé Arnaldo, Cristina Martins. Bom, posso dizer que hoje já aprendi mais uma 'coisinha' e você, sabe de onde surgiu a expressão Uai?


“Segundo o odontólogo Dr. Silvio Carneiro e a professora Dorália Galesso, foi o presidente Juscelino Kubitschek que os incentivou a descobrir a origem.

Depois de exaustiva busca nos anais da Arquidiocese de Diamantina e antigos arquivos do Estado de Minas Gerais, Dorália encontrou explicação confiável.

Os Inconfidentes Mineiros, patriotas, mas considerados subversivos pela Coroa Portuguesa, comunicavam-se através de senhas para se protegerem da polícia lusitana. Como conspiravam em porões e sendo quase todos de origem maçônica, recebiam os companheiros com as três batidas clássicas da Maçonaria nas portas dos esconderijos.


Lá de dentro, perguntavam: Quem é?, E os de fora respondiam: UAI - as iniciais de União, Amor e Independência. Só mediante o uso dessa senha a porta seria aberta aos visitantes.

Conjurada a revolta, sobrou a senha, que acabou virando costume entre as gentes das Alterosas. Os mineiros assumiram a simpática palavrinha e, a partir de então, a incorporação ao vocabulário quotidiano, quase tão indispensável como tutu e trem.

Uai, sô...

"Nota.: A pesquisa foi feita por Saulo Santigado, de Brasília (DF) e publicada no jornal Correio Brasiliense.

quarta-feira, outubro 07, 2009

Hoje sou criança!



Para mim, hoje é um dia muito especial. Faz 47 anos que eu vim ao mundo. Pode ser uma data insignificante para a maioria dos mortais, mas perdoem-me, é o meu dia e volto a sentir-me uma criança.
Este ano o meu primeiro telefonema veio de Itália, o segundo do Rio de Janeiro e foi revigorante ouvir a voz de pessoas que amamos e que sempre irão fazer parte da nossa vida. Bom demais!
Sinto que neste dia estou cercada de amor, como se fosse uma redoma brilhante que toma conta de mim e envia energia positiva a quem se aproxima.
Gosto de pensar em tudo o que vivi até agora, gosto de me lembrar de pessoas que não vejo há muitos anos mas que fizeram parte da minha infância, juventude e plenitude. Gosto de receber presentes, telefonemas, parabéns, abraços e beijos. Gosto de me sentir assim, simplesmente porque é bom, muito bom.
Sei que hoje muitas pessoas estão a pensar em mim e sem que se apercebam enviam-me muita energia, da boa.
Há pessoas que já perderam o meu contacto e outras de quem não tenho mais notícias, mas elas estão cá, na minha memória, fazem parte da minha história.
Na semana passada recebi um e-mail do Amarildo, que estudou comigo no Liceu em Bicas, com uma foto da turma, em 1969/70. Foi como se uma cortina abrisse numa janela fechada da minha memória.
Lembrei-me do apito da fábrica a dizer que estava na hora de sair de casa, de um outro apito, o da Maria Fumaça, da hora do recreio, da canjiquinha na cantina, de cantar o hino, em fila, à entrada, antes das aulas, de tanta coisa, minha nossa. Parece que o sol penetrou num lugar que estava escuro e perdido lá no passado, éramos tão felizes e nem sabíamos...
Hoje é o meu dia e agradeço ao 'cara' lá de cima tudo o que me foi destinado até agora, a família, amigos, momentos felizes e outros nem tanto, mas foram momentos que me ensinaram, foram momentos que me fizeram a mulher que hoje sou.
Vá lá, sopre a velinha comigo, um... dois... e.... pfuuuuu.....
Brigadão!

domingo, setembro 20, 2009

USA for Africa


Para matar saudades...

Para quem é ainda muito novo para se lembrar, este foi um grande sucesso em várias partes do mundo, incluindo Brasil.

Belos anos 80. Lembro-me de juntarmos grandes turmas para cantar em karaokês no Baixo Leblon

Era o must dos musts...

Vale a pena dar uma espreitadela a essa turma especial que conseguiu unir-se e proporcionar um dos maiores momentos da música inter-cultural-racial-artística-global.

O single foi escrito por Michael Jackson, e depois é só ver o "cacifo" dos vocalistas:
Bob Dylan, Kim Carnes, Ray Charles, Daryl Hall, James Ingram, Michael Jackson, Al Jarreau, Billi Joel, Cyndi Lauper, Huey Lewis, Kenny Loggins, Willie Nelson, Steve Perry, Lionel Richie, Kenny Rogers, Diana Ross, Paul Simon, Bruce Springsteen, Tina Turner, Dionne Warwick, Stevie Wonder, Dan Aykroyd, Harry Belafonte, Lindsey Buckingham, Sheila E, Bob Geldof, Jackie Jackson, LaToya Jackson, Randy Jackson, Tito Jackson, Waylon Jennings, Bette Midler, John Oates, Jeffrey Osborne,The Pointer Sisters e Smokey Robinson.


Quanto aos instrumentistas, o que muita gente não sabe é que tinha lá o "dedinho" de um carioca na percussão: Paulinho da Costa, que acompanhava Michael Boddicker - sintetizadores, programação, Louis Johnson - baixo, Michael Omartian - teclados, Greg Phillinganes - teclados e John Robinson - bateria, ou seja, gente da pesada.


Com vocês, We arte the World


Desabafos de uma brasileira...


Em terras lusas desde o início de 1992, enfrentei muitas "batalhas" num país onde ninguém conhecia e passei a fazer parte de uma minoria.
Cheguei aqui quando ser brasileira era quase pejorativo. Passei dificuldades, fome, solidão, fui maltratada muitas vezes, sofri acidentes e, sem dar o braço a torcer, dizia à família que estava tudo bem.
Por carta era mais fácil e ainda não havia ocorrido o advento dos telemóveis banais e e-mails. Mas não foram sempre momentos ruins.
Posso dizer que do muito que passei, também houve um outro lado. Encontrei gente honesta, bondosa e desprendida que irei sempre agradecer em minhas orações, porque ajudaram-me a ultrapassar todas as etapas mais difíceis e deram-me um bocado do espírito “Pollyana”, de encontrar sempre uma coisa boa para ultrapassar o ruim, achar o lado bom de cada momento negativo.
Passei também a dar valor ao país onde vivo e que um dia foi também do meu avô e reconhecer o valor do país donde vim. Surgiu um patriotismo que eu não sabia que existia. Quis “consumir” tudo o que vinha do meu Brasil Varonil: música, artes, literatura, gastronomia e cultura. Passei a ser uma “defensora” verde e amarela.
As saudades fazem sempre parte da minha vida. Agora tenho saudades da família, da minha terra, dos carinhos, da infância e da juventude. Penso que este será um sentimento que vai perdurar, porque se um dia, voltar para o Brasil, tenho a certeza absoluta que sentirei saudades de Portugal. A nostalgia apaga aqueles momentos ruins e dá um tom cor-de-rosa a tudo. É interessante a capacidade do ser humano em esquecer as coisas mais trágicas. Fantástico!
Essas são páginas viradas de uma das vidas que vivi nesta minha passagem. É que as fases da minha vida são tão vincadas, em lugares tão distintos, que às vezes tenho a impressão de que são vidas de outras pessoas. Mas esta página, este momento que estou a viver, agrada-me muito. Problemas todos temos e continuaremos a ter, enquanto por cá andarmos. Mas depois de dar a volta por cima, tudo o que vier, vem bem.
Que os bons ventos continuem...
Foi por isso que eu resolvi construir este blog. Para estar em contacto. Em contato com o mundo, em contato também com as minhas lembranças, sem perder o rumo da actualidade.
Sei que muitas pessoas ficam á espera que eu escreva qualquer coisa diferente. A 'galera' de Bicas city parece estar sempre atenta. Pode ter sido negligenciado por muito tempo, mas agora vou “detonar”.
Um bem haja a todos aqueles que por cá passarem para dar uma “espreitadela”. Sintam-se bem vindos!
Isso aqui era prá ser um pouquinho de Brasil, iá iá...

Parecem brasileiros?

Um coral da longínqua Eslovênia, Perpetum Jazzille, consegue um ritmo de samba quase impossível para muitos estrangeiros.
Claro que dá prá sentir uns nuances na pronúncia, mas está lindíssimo. Vejam e comprovem !

http://www.youtube.com/watch?v=jmttwEHdfB0

Tem que ser 'na base' do link porque ainda estou a ver como coloco vídeos no blog...

sábado, setembro 19, 2009

Especialmente diferente


Gente, verão tá acabando.
Devagarinho, o vento e o frio começam a chegar a este "jardim á beira-mar plantado". Mais um verão e não fui à praia. Parece mentira!. Trabalhei como uma louca e nem tive tempo de molhar os pés no mar.
E da maneira como estou branca ficava até mais fácil entrar em contacto com a família, porque assim que os raios de sol banhassem esse corpinho emprestado por Deus, provavelmente o reflexo seria tão forte que ia ser visto lá do Brasil! Podia fazer sinais de luzes. LOL

Mas, não estou para falar do verão que isso já há muita gente a fazer. Quero falar um pouquinho sobre preconceitos.

Ontem, participei de uma tertúlia sobre quebrar preconceitos. Foi enriquecedor. Uma iniciativa do movimento jovem local (MOJU) que elaborou um projecto fantástico: Olhares sem Preconceito e que, durante o ano passado, tentou mostrar aos olhanenses um pouco da cultura de vários povos que escolheram viver no concelho de Olhão. Brasi, India, Cabo verde e países de Leste juntaram-se ao projecto e tentaram passar um pouquinho da gastronomia, artes, história e vivências. Nem precisa dizer que "agarrei" esse projecto desde o início.

Ontem foi o culminar desta iniciativa. Estive em cima de um palco, a falar da minha experiência em Portugal e ouvi a história de alguns imigrantes de outros países, alguns com uma grande barreira de separação: a língua.

Mas a parte mais tocante foi o depoimento de alguém, com laços africanos e de raça negra. Esta pessoa sofreu por causa da sua côr, apesar de ter nascido em Portugal. Era chamada de preta, escarumba, gorda, tudo o mais que, para uma criança, pode ser altamente prejudicial na sua formação. Diziam uma frase que também já ouvi muitas vezes em Portugal: "Volta prá tua terra!". Na sua inocência infantil mostrava o seu bilhete de identidade e dizia: eu sou portuguesa!Mas esta pessoa, hoje uma mulher, conseguiu "sacudir a poeira e dar a volta por cima". Confesso que fiquei tocada com a sua história e vi, no rosto de alguns ouvintes, que este não é um caso isolado. E não é.

O preconceito, a diferença e a xenofobia são reais. Existem, por vezes de uma forma velada, mas estão lá. Só me pergunto. Por quê? O pré-conceito é uma forma horrível do ser humano mostrar a sua ignorância. O preconceito pela cor e origem de outro ser humano, o preconceito pelas opções sexuais (não vejo o que uma opção sexual de uma pessoa possa interessar a outra), o preconceito até mesmo por algum tipo de tarefa ou trabalho ou pelas suas posses e grau cultural, sei lá...

Não consigo entender, por exemplo, o facto de ser negro, ou chinês, ou brasileiro, ser homossexual ou pobre possa prejudicar alguém.

Acredito que a única pessoa que se prejudica é a própria pessoa que vive uma vida preconceituosa. Muitas nem sabem o que é preconceito mas minimizam quem é diferente.

Ei, acordem, cada um é livre de escolher o seu caminho.

Li algures que "a cor da pele, o que somos ou fomos é simplesmente banal , porque a caveira que somos é sinal de igual!".

Já não me apetece escrever sobre este assunto. Vou é dirigir uma oração por essas pessoas, que sem saber, estão a fazer muito mal a elas próprias:

"Senhor, perdoa-os, pois eles não sabem o que fazem!"
Nota: As várias cores deste post foram propositais !!!

sexta-feira, setembro 18, 2009

Como o Roberto Leal - Remake



A pedidos, estou a republicar um post de Setembro de 2005:

"Como o Roberto Leal"

Já estou como o Roberto Leal, que sente-se português lá e brasileiro cá.
Quando chegamos aqui (de lá) ou cá (de cá) a confusão instala-se.
Termos e palavras portuguesas com sentidos completamente diferentes fazem com que brasileiros recém-chegados cometam gafes atrás de gafes. Nunca, em momento algum, diga que deu uma rata, que aqui é tremendamente pejorativo. Cometeu uma gafe, viu? GAFE !

Tou sim, ou está lá, são as habituais saudações, e com licença, as despedidas, quando se fala ao telefone. O celular passa a telemóvel e rapariga não é palavrão.
Comprar carne no talho ou um martelo na drogaria ou linhas e agulhas na retrosaria, são alguns exemplos das subtis diferenças. Mas o melhor é que carregar é o mesmo que apertar, e autoclismo é o mesmo que descarga. Tem mais, muito mais. Não se despeja o lixo e sim, deita-se o lixo. Não se usa água sanitária, mas sim, lixívia. Uma lagartixa vira osga e uma patricinha é queque (Não confundir com que + ca – é palavrão e designa acto sexual).
Se é da hora, é fixe e se é fantástico, é bué d’a fixe. Se uma pessoa é legal, prá cima, aqui passa a ser porreira. E paneleiro não é aquele faz panela, mas é o gajo, ou cara, que senta na boneca. Bicha portuguesa é fila brasileira.
Cu não é palavrão e designa a parte traseira, a poupança, as nádegas, o bumbum dos portugueses e portuguesas, aliás aqui, o comum não é cair sentado, mas sim, cair de cu. Injecção é pica. Já viram então como fica, levar uma injecção nas nádegas. É prá qualquer brasileiro ou brasileira, que não goste, é claro, sair correndo de uma sala de hospital ou enfermaria, ah, e quem tem muita energia, é porque tá cheio de pica. Pensando bem, até tem um bocado de lógica.
Aqui nada é planejado, tudo é planeado. Cueca é de mulher e homem usa camisola. Aliás, para dormir o que se usa é camisa. Antes de deitar, lavam-se os dentes na casa de banho. A privada vira pia, e a pia passa a ser lavatório. Não se esqueça então, de carregar no autoclismo, tá a ver? Ah, aqui, em algumas regiões, dá-se banho e não toma-se banho.
Puto também não é palavrão, aliás, puto é o mesmo que menino, mas o feminino continua a significar a mesma coisa tanto em terras lusas quanto em terras de Vera Cruz.
Ir ver uma partida de futebol é ir à Bola, se for a praia, vai à banhos, se for a padaria, vai ao pão. O mais giro, ou o mais bonito, é que engraçado é bonito. Não, não estou disléxica, é que se achamos que alguém tem uma beleza especial, então achamos a pessoa engraçada. Dá p’rá sentir a confusão? Uma pessoa engraçada para o brasileiro é uma pessoa cómica para o português.
Essas são apenas algumas das diferenças que o oceano interpôs entre o português do país original e o português do nosso Brasil.

Você sabia que cerca de 6.800 línguas são faladas em todo o mundo? Se quiser saber quantas línguas existem no Brasil, é só ir ao site http://www.aultimaarcadenoe.com/linguistico.htm

Momento super especial

Há momentos na vida de um jornalista que valem por todas as desgraças com que lidamos no dia-a-dia. Há momentos na vida de uma brasileira há quase 20 anos longe do seu país que valem tanto que não há nem com o que comparar.


Estar à conversa com o Gilberto Gil, uma pessoa fascinante e com uma luz fantástica, foi um desses momentos.


E como eu sou de matar a cobra e mostrar o pau, aí tem registado numa fotografia o momento que se tornou ainda mais especial por ter sido partilhado com o 'rei do samba', o Martinho lá da Vila.


São esses momentos que compensam todos os outros trabalhos, muitas das vezes penosos, que vivemos a cada dia como jornalista, neste mundo cada vez mais maluco.


Para quem gosta de vir aqui dar uma olhadela naquilo que escrevo (agora será mais amiúde), taí ! Acho que dá prá perceber o meu estado de espírito naquele momento.
Beijocas...

domingo, agosto 30, 2009

De bobeira...

Trabalhando que nem uma louca hoje tirei umas duas horitas prá ficar de bobeira. Sem nada de concreto prá falar, escrever ou ler. E como há muito tempo não tenho escrito nada nos meus blogs vou actualizá-los.
É verão aqui na Zoropa. Como se diz aí no Brasil, "num é mole não". Depois de vários meses de frio, chuva, cachecóis e luvas, o calor vem com a força toda. Calor, radiação ultra-violeta, incêndios, gripes malucas e os milhares de turistas que literalmente invadem o Algarve nesta época do ano. Parecem aquelas formiguinhas, umas atrás das outras, não daquelas que ajudam as suas iguais a carregar uma pesada folha, mas daquelas que tentam tirar o pedacinho da folha da outra formiguinha que ficou prá trás. E depois vêm stressadíssimos. Também trazem mulher, filhos, sogra, papagaio, periquito, o cão e querem ir a praia com toda essa gente, mais a toalha, cadeira, caixa com cerveja, a bola pro filho, a piscininha prá filhinha, a barraca, os sacos com protetor solar, cigarros, biscoitos, banana, ufa...Aqui, onde moro, para ir à praia, só mesmo apanhando barco. Já viu o que é enfrentar uma fila enorme de outros turistas iguais, logo de manhã, depois de um café da manhã barulhento, entrar num barco atulhado de gente, com essa tralha toda? Isso sem contar o tempo que demorou prá estacionar o carro porque milhares de pessoas tiveram a mesma idéia. Depois tem de andar até a praia carregando tudo sem pensar na volta. Quando estão todos bem rosados, saem da praia, enfrentam outra fila, outro barco a abarrotar e aí começa mais um perrengue.
Chegar a Olhão, ir buscar o carro que entretanto ficou mal estacionado, tem um papelzinho azul no pára-brisas dizendo que tem de ir à Polícia pagar a multa por ter parado ali. Corre prá casa alugada por um preço astronómico. Só consegue tomar banho depois da mulher, filhos, sogra, papagaio e periquito. Ah, e o cão, é claro.
Depois a mulher quer sair prá ir a um restaurante. Outro perrengue prá estacionar o carro, encontrar um restaurante que tenha lugares prá essa gente toda. As crianças choram que têm a pele a arder. A sogra reclama, a mulher tá aborrecida. E o cara aguenta, até um certo ponto. Uma hora acaba por estourar. Depois quem é que paga tudo isso? Quem mora aqui, porque quem está de férias tá tão stressado que desconta em qualquer um. Maltratam os empregados de supermercado, de padaria e de restaurante.
É, viver no sul de Portugal com essas praias magníficas a receberem galardões internacionais é dose. Cada vez vêm mais turistas stressados querendo ver tudo em poucos dias.

Praia prá nós? só quando acabar o mês de Setembro, senão stressa.
Viva a internet e as novas tecnologias. Já pus um protector de ecran com uma bela paisagem da Restinga da Marambaia e vou sonhando que estou ali naquelas areias branquinhas.

Falando sério, acho que estou mesmo a precisar urgentemente de ir ao Brasil. Saudades da beleza do meu Rio e do encanto de Bicas, Guarará...

Para o ano quem sabe?

segunda-feira, janeiro 26, 2009

Sentidos em Bicas


Demorou, mas fiquei fã do Orkut. É quase um milagre encontrar pessoas que não vemos há tanto tempo. Fui pesquisar por Bicas, é claro, e achei montes e montes de comunidades, umas sérias, algumas nem por isso e outras assim, assim...
Como já há muito tempo não dou o "ar da minha graça" por aqui, resolvi tirar o pó de mais algumas memórias em Bicas. Não me levem a mal aqueles que acham que Bicas não presta, como li em algumas comunidades jovens do Orkut, mas nos anos dourados, ou prateados, sei lá, a minha percepção era outra.
Apesar dos tempos difíceis parece que a vida era um bocadinho mais cor-de-rosa, sem a globalização e a consciência de todas as guerras que graçam por este mundo afora. Não via os males políticos mas o “bem viver”. Penso que, talvez por isso, os meus sentidos não esqueceram.
Ainda era um bocadito como aquela música do Ataulfo Alves, "eu igual a toda meninada, quanta travessura eu fazia... eu era feliz e não sabia". Os garotos ainda jogavam bolinha de gude nas calçadas, os circos ainda acampavam no Bairro Santana, a Júlia ainda cantava na Igreja. Eu era pequena mas ainda me lembro da Júlia cantando durante a Missa. Aliás a minha memória musical passa também pelas aulas de piano e flauta da D. Sofia e da sua mãe, acho que era a D. Mafalda a cantar Carlos Gomes e claro, o "Seu" Vicente Rossi. Aliás, falar de música em Bicas sem falar do Seu Vicente Rossi devia ser considerado quase um "pecado", já que ele marcou várias gerações. Era um verdadeiro apaixonado pela música e conseguia que muitos apreciassem a sua paixão. Até hoje e graças ao Seu Vicente Rossi, conheço alguma da clássica música brasileira que poucos conhecem.
Um pouco mais tarde, entrando na adolescência, os sons eram outros. Apesar dos Genesis, Elis, Pink Floyd e Chico, não me esqueço do Carlos da Casson. Não das notas de falecimento, prrrrá tum
tchiiii, mas dos bailaricos e serestas onde eu dançava a não mais poder, da panela velha é que faz
comida boa e claro do pinga ni mim. E ainda na parte dos sons, apesar de haver umas cervejas à mistura, como não me lembrar das deliciosas cantorias nas Exposições, na barraca do Edir e no Chora Morena?
Mas as minhas lembranças também ouvem o bem-te-vi anunciando a chuva, o sabiá cantando, o meu melro anunciando a chegada de mais um dia, a buzina do leiteiro, a sirene da Leopoldina e o apito da Maria Fumaça.
Mas havia muito mais. Os cheiros, por exemplo. Como é que poderia me esquecer dos cheiros? No verão quando o dia terminava, um perfume a "Dama da Noite" invadia o Bairro Santana. Quando chovia, a terra molhada exalava um odor tão caracteristico e agradável que raramente senti em outra parte desse mundão que tenho visitado.
Mas já que entrei na onda dos sentidos, já falei da audição, do olfacto. Vamos ao sabor. Por que não lembrar-me dos aniversários e os docinhos da Tia Nirlene, a goiabada da Tia Maria José ou as balas de côco da Geralda doceira? Ou das "caçarolas" da Padaria do Chiquim? Café com pão fresquinho, quentinho, com manteiga Girafa. E comer jabuticaba no pé? Ou das coxinhas de galinha e o sorvete de ameixa do Pedro Machado? Nossa, claro, o Grapette. Tá bem, não era feito em Bicas, mas o sabor do Grapette faz também parte da minha memória gustativa.
Agora, a visão: Não sei como está actualmente mas o "mar de morro" era o que eu via quando abria a janela pela manhã. Adorava os arredores de Bicas, o Jardim e a Igreja, a gruta, a beleza dos fins de tarde e o colorido das roseiras em flor.
Falta o tacto? Ok, esse é um dos mais importantes, o carinho, o toque, a emoção de "pegar na mão" das primeiras paqueras, e claro, a lembrança dos abraços dos parentes queridos. Esses são cada vez mais raros.
E à medida que o tempo ia passando, e que eu ia perdendo gradualmente a inocência de criança, que mudavam os meus sonhos e desejos e que a adolescência se impunha, tudo parecia sempre muito natural. Os dias eram longos, havia tempo para conversar em família, visitar amigos e colegas, passear pela cidade, à toa, sem ter que ir a lugar algum, apenas andar pela cidade, à pé ou de bicicleta, ou mesmo sentar à frente da casa, sem ver nada em particular, mas apreendendo cada detalhe da rua, da escola, das pessoas, enfim, de Bicas.
Hoje os sentidos continuam activos, claro, uns menos que outros, mas como costumo dizer, é do caruncho. Mesmo assim, muitas vezes, uma brisa traz um cheirinho qualquer que me lembra Bicas ou mesmo uma frase ou história, contada aqui em terras lusas, faz-me lembrar e dizer muito rápido: em Bicas também era assim...
Lúcia