Retto Júnior
Há muito que tenho prometido historias de Bicas City, mas os horários, as actividades de verão, a saúde, enfim, a vida não têm me deixado tempo, ou melhor até tem, só que há sempre tanta coisa prá fazer, que passa até que ontem, recebi um e-mail simpático de uma professora em Guarará, a Mariana, que disse estar “viajando” com os textos do blog e falou do Antonio Carlos e da Lia, que parece estar aposentada e curtindo a outrora calma e hidratada Guarará.
É engraçado como as lembranças também ajudam a ultrapassar uma das duas únicas certezas desta vida: a temerada morte. A outra certeza na vida é pagar impostos mas isso não vem ao caso agora. O ano de 2007 foi daqueles que marcaram e que empobreceram a minha família. De caras, perdi a minha querida madrinha, Wilma Pires, a dindinha Wilma, depois foi a tia Maria José e no final do ano, o choque: Tio Rogerinho. Como estou longe, finjo que ele ainda não foi para o outro lado e assim a tristeza não bate muito forte.
Já há algum tempo que não vou ao Brasil mas tenho quase a certeza que Guarará e Bicas já são uma só. Lembro-me quando a Rua da Caixa e a Rua do Bonde terminavam no Posto de Gasolina. Depois era só terra batida até Guarará, claro passando um pedaço pela estrada, e que não deixava de ser uma aventura ir até lá de bicicleta. O melhor ainda era ir até ao final da Rua da Caixa, ou do Bonde (agora confundo as duas), subir aquela rampa da estrada e descer, sem pedalar, com o vento batendo no rosto, em alta velocidade (que perigo!), até a entrada para Guarará e claro, não voltar sem beber aquela água deliciosa. O pior era ter de voltar empurrando a bicicleta, mas sempre valia a pena.
Se a vó sonhasse as peripécias que fazíamos... Eu hoje acredito que o meu Anjo da Guarda deve ter tido uma grande trabalheira para me proteger.
Isso era uma das coisas perigosas que nós fazíamos, como por exemplo fazer rail descendo o morro do hospital até ao bairro Retto Junior. É que entre a estrada de terra que havia ali e a escola, o terreno era baldio, cheio de altos e baixos, mas os sustos eram superados pela adrenalina. Ah, e sem esquecer o cachorro preto de uma senhora que morava ali na curva em direcção à lagoa, em frente à casa do Jairo (ou será que era do Josmar?) e costurava prá fora. Aquele cachorro foi o nosso inferno infantil. Era enorme e assim que nos via até punha-se como os tigres, de cabeça baixa, pronto prá atacar. Às vezes a vó pedia prá ir buscar qualquer coisa na casa da Galba e aquilo era uma verdadeira tortura.
E por falar em lagoa, os malditos gansos que eram pior que qualquer cão de guarda.
Voltando ainda mais no tempo, entre a nossa casa e a do Jairo havia um terreno baldio, sei lá eu deveria ter os meus 7 anos, e lá estava instalado um homem que estava sempre a ouvir rádio, num barraco de madeira e zinco, que nos sorria um sorriso sem dentes mas não nos causava pavor. Não me lembro do seu nome, nem do que lhe aconteceu. Quando saímos daquela casa e voltamos para o bairro Santana ele já não estava lá.
Mas neste terreno aconteceu uma cena bizarra. A minha irmã Monica deveria ter três ou quatro aninhos quando brincava à porta de casa, ao lado da escola, quando um touro desgarrado de uma boiada à caminho do matadouro, atacou-a. Naquela época tínhamos uma empregada, penso que era a Mirtes, que se jogou por cima da Monica. A vó sempre acreditou que naquele momento assistiu a um milagre, quando gritou por Nossa Senhora Aparecida, o touro que já havia pisoteado as duas, olhou prá vó Nair e voltou para a manada. Uma história contada muitas e muitas vezes. A minha irmã saiu ilesa e a Mirtes ficou com ferimentos ligeiros, mas acabou por ser uma heroína.
Caramba, que hoje fui “cavucar” mesmo lá no fundo do baú.
A casa do Retto Júnior era grande mas o quintal era ainda maior e era um paraíso para a nossa fértil imaginação.
Tempinho bão, sô...
Há muito que tenho prometido historias de Bicas City, mas os horários, as actividades de verão, a saúde, enfim, a vida não têm me deixado tempo, ou melhor até tem, só que há sempre tanta coisa prá fazer, que passa até que ontem, recebi um e-mail simpático de uma professora em Guarará, a Mariana, que disse estar “viajando” com os textos do blog e falou do Antonio Carlos e da Lia, que parece estar aposentada e curtindo a outrora calma e hidratada Guarará.
É engraçado como as lembranças também ajudam a ultrapassar uma das duas únicas certezas desta vida: a temerada morte. A outra certeza na vida é pagar impostos mas isso não vem ao caso agora. O ano de 2007 foi daqueles que marcaram e que empobreceram a minha família. De caras, perdi a minha querida madrinha, Wilma Pires, a dindinha Wilma, depois foi a tia Maria José e no final do ano, o choque: Tio Rogerinho. Como estou longe, finjo que ele ainda não foi para o outro lado e assim a tristeza não bate muito forte.
Já há algum tempo que não vou ao Brasil mas tenho quase a certeza que Guarará e Bicas já são uma só. Lembro-me quando a Rua da Caixa e a Rua do Bonde terminavam no Posto de Gasolina. Depois era só terra batida até Guarará, claro passando um pedaço pela estrada, e que não deixava de ser uma aventura ir até lá de bicicleta. O melhor ainda era ir até ao final da Rua da Caixa, ou do Bonde (agora confundo as duas), subir aquela rampa da estrada e descer, sem pedalar, com o vento batendo no rosto, em alta velocidade (que perigo!), até a entrada para Guarará e claro, não voltar sem beber aquela água deliciosa. O pior era ter de voltar empurrando a bicicleta, mas sempre valia a pena.
Se a vó sonhasse as peripécias que fazíamos... Eu hoje acredito que o meu Anjo da Guarda deve ter tido uma grande trabalheira para me proteger.
Isso era uma das coisas perigosas que nós fazíamos, como por exemplo fazer rail descendo o morro do hospital até ao bairro Retto Junior. É que entre a estrada de terra que havia ali e a escola, o terreno era baldio, cheio de altos e baixos, mas os sustos eram superados pela adrenalina. Ah, e sem esquecer o cachorro preto de uma senhora que morava ali na curva em direcção à lagoa, em frente à casa do Jairo (ou será que era do Josmar?) e costurava prá fora. Aquele cachorro foi o nosso inferno infantil. Era enorme e assim que nos via até punha-se como os tigres, de cabeça baixa, pronto prá atacar. Às vezes a vó pedia prá ir buscar qualquer coisa na casa da Galba e aquilo era uma verdadeira tortura.
E por falar em lagoa, os malditos gansos que eram pior que qualquer cão de guarda.
Voltando ainda mais no tempo, entre a nossa casa e a do Jairo havia um terreno baldio, sei lá eu deveria ter os meus 7 anos, e lá estava instalado um homem que estava sempre a ouvir rádio, num barraco de madeira e zinco, que nos sorria um sorriso sem dentes mas não nos causava pavor. Não me lembro do seu nome, nem do que lhe aconteceu. Quando saímos daquela casa e voltamos para o bairro Santana ele já não estava lá.
Mas neste terreno aconteceu uma cena bizarra. A minha irmã Monica deveria ter três ou quatro aninhos quando brincava à porta de casa, ao lado da escola, quando um touro desgarrado de uma boiada à caminho do matadouro, atacou-a. Naquela época tínhamos uma empregada, penso que era a Mirtes, que se jogou por cima da Monica. A vó sempre acreditou que naquele momento assistiu a um milagre, quando gritou por Nossa Senhora Aparecida, o touro que já havia pisoteado as duas, olhou prá vó Nair e voltou para a manada. Uma história contada muitas e muitas vezes. A minha irmã saiu ilesa e a Mirtes ficou com ferimentos ligeiros, mas acabou por ser uma heroína.
Caramba, que hoje fui “cavucar” mesmo lá no fundo do baú.
A casa do Retto Júnior era grande mas o quintal era ainda maior e era um paraíso para a nossa fértil imaginação.
Tempinho bão, sô...